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Aqui vai uma sugestão para a lista:
Ajami Poster
Veja o trailer aqui:
http://www.imdb.com/video/imdb/vi3525903385/

Leia uma resenha

Ajami http://www.paradoxo.jor.br/2010/02/ajami.html
Cinco frações de uma história

Confesso que não tenho um contato muito estreito com a produção cinematográfica de Israel. Um pouco culpa minha, por não correr atrás de títulos daquele país. Muito culpa de uma cultura de distribuição de filmes que fecha os olhos para nações sem uma tradição no cinema – ou dinheiro – para fazer com que seus trabalhos cheguem a outros cantos do mundo. Felizmente, a qualidade superior de alguns longas-metragens consegue quebrar barreiras. Foi assim com Valsa com Bashir, em 2008, e, agora, com Ajami, concorrente de Israel ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A história, cheia de idas e vindas, é surpreendente e muito bem amarrada pelos diretores Scandar Copti e Yaron Shati.

As aparências enganam em Ajami. O filme toma emprestado o nome do bairro de Jaffa, conhecido por ter em sua população muçulmanos, judeus e cristãos, onde se passa a ação do longa-metragem. O roteiro, escrito pelos diretores, é dividido em cinco capítulos e neles conhecemos Nasri (Fouad Habash), Omar (Shahir Kabaha), Malek (Ibrahim Frege), Dando (Eran Naim) e Binj (Scandar Copti), figuras centrais em uma trama intrincada que fala de perdas, preconceito e, principalmente, de escolhas.

Nasri sempre pressentiu quando algo ruim aconteceria perto dele. E não foi diferente quando seu vizinho foi morto a tiros, por engano. Os assassinos procuravam o irmão mais velho de Nasri, Omar, simplesmente por ele ser sobrinho do homem que matara alguém de seu clã. Omar e sua família agora precisam ser protegidos e, para tanto, terão de pagar pelo cessar fogo. Sem condições financeiras, o rapaz, depois de muito ponderar, decide entrar para o arriscado mundo das drogas. A falta de dinheiro também faz com que Malek se veja em uma enrascada. Sua mãe está doente no hospital e ele precisa pagar pela cirurgia. Apesar da ajuda de seus amigos, Malek não vê outra forma senão acompanhar Omar na empreitada. O produto a ser vendido é de Binj, um amigo próximo que, aparentemente, caiu no caminho errado. Muçulmano, mas perto de se juntar com a namorada judia, Binj tem em seu destino um divisor de águas na jornada de todos. O caminho destas figuras pode se cruzar com Dando, pai de família, policial, que sofre com o desaparecimento de seu irmão mais novo.

A separação de capítulos da trama a La Taratino não é gratuita. Com uma narrativa não linear, Ajami tira proveito de sua estrutura para apresentar pontos de vista diferentes de fatos, retroceder no tempo e, basicamente, mostrar ao espectador que nem sempre o que nos é mostrado como certo é, de fato, a verdade. A forma com que os diretores trabalham o ritmo do filme é salutar, visto que os personagens são desenvolvidos sem pressa e o caminho que eles trilham não parece uma imposição do roteiro para que todas as linhas se cruzem. Pelo contrário. O roteiro dá uma grande ênfase nas escolhas que seus personagens fazem. Seres humanos falhos como qualquer um, estas escolhas nem sempre são as mais acertadas. Portanto, não soa irrealista que dois jovens de boa índole acabem planejando vender crystal, uma droga bastante pesada, por ela acabar chegando em suas mãos. Também não soa de nada fora dos parâmetros que um policial abalado pelo desaparecimento de seu irmão acabe sucumbindo a uma vingança impensada. A força de Ajami está nesse momento limite em que vivem todos os seus personagens e a forma como ela é contada ao espectador.

Com um elenco formado totalmente por não-atores, o longa-metragem tem um estilo que pende para o documental. Atuações naturalistas, figurino provavelmente pertencente aos próprios intérpretes dos personagens e fotografia pouco retocada ajuda nesse feeling de realidade. É interessante salientar que os diretores são de origens diferentes e, talvez por isso, tenham feito questão de colocar estas diferenças dentro do filme. Quando árabes conversam entre si, escutamos sua língua. Quando os diálogos são entre judeus, escutamos o hebraico. Este pequeno cuidado dá uma grande credibilidade a Ajami. O fato de a intolerância religiosa não ser uma linha motriz, mas estar inclusa no filme também funciona muito bem. Em um dos capítulos, um dos amigos de Binj não se conforma pelo fato de ele estar se casando com uma judia. O romance entre Omar e Anan (Hilal Kabob), filha do influente Abu-Lias (Youssef Sahwani), da mesma forma, sofre problemas pelas tradições do país. Tudo é muito bem retratado pela câmera atenta de Scandar Copti (palestino, criado em Ajami) e Yaron Shani (judia, nascida em Israel).

Mantendo o interesse do espectador a cada nova cena e mudando a nossa percepção sobre a história a cada capítulo, Ajami acaba sendo uma produção maiúscula da cinematografia israelense. Depois do ótimo Valsa com Bashir, o país gera mais um belo e contundente longa-metragem. Que venham outros.

Maratona Oscar: Ajami foi indicado a um Oscar: Melhor Filme Estrangeiro. Esta estatueta deve ficar com Michael Haneke com seu A Fita Branca, quebrando uma velada tradição do Oscar em não dar seu prêmio ao vencedor do Festival de Cannes. Ou, talvez, com O Profeta, do francês Jacques Audiard, que levou a melhor no Bafta, tido como o Oscar britânico.

Ajami
Dir.: Scandar Copti e Yaron Shani
Com Fouad Habash, Shahir Kabaha, Ibrahim Frege, Eran Naim, Scandar Copti, Nisrine Rihan, Elias Saba, Youssef Sahwani, Ranin Karim

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