A piscina e arrogância humana
(artigo publicado no Diário Catarinense, dia 06 de dezembro de 2014. O link encontra-se no final)
O direito de ir e vir não permite ultrapassar um sinal fechado. Estar dentro de casa, espaço privado, não lhe dá o direito de espancar uma criança ou violentar um bebê.
Ethel Scliar Cabral é mestre e doutoranda pela UFSC, conselheira no
Compir, Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial; e na
AIC, Associação Israelita Catarinense.
(artigo publicado no Diário Catarinense, dia 06 de dezembro de 2014. O link encontra-se no final)
No verão, nada melhor
que um banho de mar ou um mergulho na piscina. Há piscinas para todos os
gostos: de lona, pré-fabricadas, feitas sob encomenda, grandes e pequenas. Cada
um faz uma piscina como quer, certo? Ou poderemos interferir no gosto do nosso
vizinho?
Viver em sociedade não
é tarefa fácil: a discussão entre o que é público e privado é grande, em tempos
de Internet e selfies – a
repercussão do que você faz afeta o mundo e a liberdade tem limites: o problema
é descobrir quais são eles.
O direito de ir e vir não permite ultrapassar um sinal fechado. Estar dentro de casa, espaço privado, não lhe dá o direito de espancar uma criança ou violentar um bebê.
Tem alguém o direito
de colocar uma suástica no fundo de uma piscina, que pode ser vista por quem
sobrevoa o espaço aéreo?
Para além da liberdade
e do gosto pessoal, é interessante notar que a suástica está no fundo da piscina: nada mais apropriado.
A suástica é um símbolo do nazismo – mesmo que suas origens remontem a outros
períodos. É um símbolo, assim como a cruz é do cristianismo, a estrela de David
é do judaísmo, a Lua crescente com estrela é do islamismo, o yin-yang do
taoísmo e assim por diante. As origens não interessam: o fato é que tais
imagens remetem, imediatamente, a algo e a suástica está ligada ao nazismo.
O proprietário da casa
fez bem em afundar o nazismo, que também afundou a humanidade em uma guerra
cruel, que dividiu o mundo e cujos efeitos sentimos até hoje. Os nazistas foram
responsáveis por um programa sistemático para exterminar ciganos, negros,
homossexuais, portadores de deficiências, doentes e quem pensasse diferente do partido
názi. O programa defendia o total extermínio de um povo: foram assassinados mais
de seis milhões de judeus no período do nazismo, além das humilhações e das
torturas sofridas, com requintes de crueldade – experiências com crianças, mães
grávidas, gêmeos.
O nazismo foi uma
praga que se espalhou pelo mundo e representa a arrogância humana: coloca-se no
direito de decidir quem deve viver e quem deve morrer, define padrões de beleza
e acredita que o ariano tudo pode. Não pode.
A mesma arrogância que
levou o Titanic a naufragar também pôs o nazismo no fundo de uma piscina. Ciganos,
negros, homossexuais, judeus, deficientes e a pluralidade sobreviveram. Os
nazistas foram derrotados. Que todos, neste período de final de ano e de luzes,
se unam para um mundo mais justo e melhor e que o nazismo jamais volte a vir à
tona.
Ethel Scliar Cabral é mestre e doutoranda pela UFSC, conselheira no
Compir, Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial; e na
AIC, Associação Israelita Catarinense.
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