27 DE JANEIRO

Hoje dia 27, o Dia Memorial do Holocausto marcará o 80º aniversário da chegada vergonhosamente tardia dos aliados à Auschwitz quando apesar de saber há muito o que se passava ali e em outros campos, depararam-se incrédulos com os últimos sobreviventes. Enfermos, morimbundos, cadavéricos, farrapos humanos, Primo Levi, entre eles e por estarem muito doentes e enfraquecidos, abandonados pelos nazistas a própria sorte e poupados das marchas da morte, onde pereceram mais de 15.000 judeus. " O Horror!, o Horror!, o Horror!" exclamaram estupefactos os soldados ao encarar a crueldade e devastação que testemunharam. A mesma expressão que Joseph Conrad cunhou em " Coração das trevas" acerca das atrocidades belgas no Congo que ele tbem testemunhou em 1890.
Lembraremos também as 12 pessoas mortas em 2015, no ataque à revista satírica Charlie Hebdo em Paris, a policial assassinada e os quatro clientes num supermercado judaico, baleados enquanto faziam compras na véspera do Shabat.
Os jornalistas foram mortos por causa daquilo que fizeram: satirizar o profeta Maomé e o mundo reagiu; " Somos todos Charlie", um slogan há muito esquecido. Os fregueses judeus foram mortos por causa daquilo que eram, judeus. Oitenta anos após o Holocausto, o antissemitismo esta vivo e forte, e de volta. " Lembrar o Holocausto para que nunca mais se repita". Em certa medida, repetiu-se em 07 de outubro de 2023 qdo 1200 judeus foram assassinados e 250 feito reféns pelos terroristas do Hamas. Em um breve e inicial momento projetores tingiram a torre Eiffel com as cores da bandeira de Israel. " Nunca mais é agora" e agora existe um Estado judeu e para protegê-lo, seu exército. Reagir ao massacre era a única opção e desencadeou-se uma nova onda de antissemitismo que nos deixa perplexos, como se o massacre e atrocidades filmadas pelos próprios terroristas fossem ficção e os reféns um detalhe insignificante. Precisamos do Dia Memorial do Holocausto? Como judeus não precisávamos disso. Já temos Yom HaShoa, nosso próprio dia memorial, logo após Pêssach no calendário judaico. Todo judeu literalmente - ou figurativamente - perdeu a família no Holocausto. Para nós Yom HaShoa é um luto observado.
Mas sim, pois o Holocausto não foi um crime apenas contra judeus e outras vítimas - ciganos, homossexuais, maçons, deficientes e Testemunhas de Jeová entre elas. O Holocausto foi um ataque à humanidade. Primo Levi, quando escreveu suas memórias sobre Auschwitz, não a chamou de "Se ISTO é um Judeu", ele a chamou " Se ISTO é um Homem".
Os judeus eram odiados porque eram diferentes. A declaração clássica é a frase de Haman ao rei Achasueru no Livro de Esther, que há um povo espalhado entre as nações “que se mantém separado; seus costumes são diferentes daqueles de todos os outros povos” (Esther 3:8). O antissemitismo é o paradigma de não gostar do diferente. Durante mil anos os judeus foram o arquétipo "DO OUTRO": não-cristãos na Europa cristã, não-muçulmanos no Oriente Médio muçulmano.
Mas somos todos diferentes, únicos. Isso é o que nos faz humanos. Uma sociedade que não tem espaço para diferenças não tem espaço para a humanidade. O ódio que começa com judeus jamais termina com judeus. Onde quer que você encontre antissemitismo, ali também encontrará uma ameaça à liberdade. Afinal, nenhuma sociedade livre jamais foi construída sobre o ódio.
Extrato do texto de autoria de Lívio Charach - Membro da AIC

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